quinta-feira, 2 de julho de 2009

Apresentação do 4º painel - doenças relacionadas à obesidade

O organismo funciona de maneira dinâmica e integrada. Pode-se dizer, portanto, que uma complicação nunca vem sozinha. Assim, a obesidade aparece como algo muito maior que o simples acumulo de gordura, podendo apresentar inúmeras complicações.
Para entender essas co-relações, alguns conceitos são importantes:
O primeiro deles é a síndrome metabólica, que é um conjunto de doenças e complicações relacionadas entre si, que apresenta como denominador comum a resistência a insulina. As doenças envolvidas são diabetes, hipertensão e dislipidemia. Foi descrita em 1988 por Reaven, batizada inicialmente como síndrome X e, mais tarde, como síndrome metabólica ou plurimetabólica. Portadores dessa síndrome estão mais propensos a desenvolver doenças cardiovasculares, derrames cerebrais e doenças vasculares periféricas.
Atualmente, o que mais se tem usado como critério de identificação da síndrome metabólica é a medida de circunferência abdominal, porque está correlacionada com a obesidade visceral. Isso significa que a gordura não é apenas subcutânea, isto é, que não está localizada apenas debaixo da pele, mas também entre as vísceras e os intestinos. A gordura visceral é a grande vilã dessa síndrome.
Um segundo conceito importante é a resistência a insulina: pessoas com excesso de peso tendem a apresentar resistência à insulina. É como se essa substância para agir tivesse de atravessar uma parede que a obesidade tornou mais espessa e difícil de transpor. Conseqüentemente, os níveis de insulina sobem no sangue, porque o pâncreas passa a produzir mais esse hormônio a fim de evitar o estabelecimento de diabetes. Esse aumento na produção de insulina está relacionado com a retenção de sódio no organismo, o que significa maior tendência à pressão arterial elevada.
Além de agravar a propensão ao diabetes, a resistência à insulina provoca alterações nos níveis de gorduras no sangue, principalmente nos níveis de triglicérides e do bom colesterol (HDL). Esse é um fator de risco que acomete especialmente o indivíduo acima do peso ou os obesos.
O que acontece?
Comprometimento da utilização de glicose pelo músculo esquelético e tecido adiposo, da supressão da produção hepática de glicose e do bloqueio da lipólise acelerada no tecido adiposo. Assim, o indivíduo se apresenta hiperinsulinêmico, hiperglicêmico e com níceis altos de ácidos graxos livres.

DIABETE
Obesos apresentam um nível muito alto de ácidos graxos livres provenientes do adipócitos. Tais ácidos graxos livres inibem a captação de glicose pelos tecidos periféricos, sendo causa da resistência à insulina, que é pré-fator a diabetes tipo II. O acúmulo de ácidos graxos livres poderia iniciar uma cascata metabólica, resultando na inibição da enzima fosfofrutoquinase, e no acúmulo de glicose-6-fosfato dentro das células musculares, o que desregularia o transporte de glicose.
Existe, também, uma proteína que é codificada exageradamente em obesos: a resistina. Tal proteína atuaria na sensibilidade das células adiposas à insulina, dificultando a captação de glicose pelos adipócitos, sendo uma das causas da resistência à insulina podendo levar a diabetes tipo II.

DISLIPDEMIA
Sendo o indivíduo obeso resistente à insulina, a ação de supressão de ácidos graxos livres realizada pela insulina fica comprometida, o que aumenta o fluxo dos mesmos ao fígado causando maior síntese VLDL rica em triglicerídeos. Além disso. Os AGL dissociam a enzima Lípase lipoprotéica (essencial para o catabolismo de lipoproteínas ricas em triglicerídeos, como VLDL e quilomícrons) de seus sítios de ligação, diminuindo sua atividade lipolítica, determinando o acúmulo de triglicerídeos no plasma, causando a chamada DISLIPDEMIA (acúmulo de gordura no sangue).

ATEROSCLEROSE
Esse acúmulo de gordura circulante no sangue pode se aglomerar e se depositar na parede das artérias causando seu entupimento, a aterosclerose.

ESTEATOSE HEPÁTICA NÃO ALCOÓLICA
O aumento de ácidos graxos circulantes formam o chamado fígado gorduroso, que se caracteriza pelo acúmulo de ácidos graxos livres no fígado.

SÍNDROME DA APNÉIA OBSTRUTIVA DO SONO
Caracterizada pela parada respiratória repentina durante o sono e é causada pela deposição de gordura adjacente às vias aéreas superiores, o que promove um estreitamento dessas vias dificultando a passagem do ar até os pulmões, fazendo com que o portador de tal doença acorde repentinamente com falta de ar.

ARTROSE
Ocorre o aumento da pressão sobre a cartilagem, material elástico esbranquiçado que evita o choque de ossos, causado pelo aumento de peso. Isto leva à destruição progressiva do tecido cartilaginoso, o que resulta em prejuízo para as articulações, tornando os movimentos mais difíceis e até doloridos.

CALCULO BILIAR:
A bile é produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar. Os componentes da bile são: sais, bilirrubina, e colesterol. As "pedras" são formadas devido um desequilíbrio destes componentes. Uma quantidade aumentada de colesterol na bile reduz a solubilidade dos sais biliares que precipitam e conduzem à formação de pedras de colesterol. Similarmente, uma diminuição na quantidade de sais biliares promove a formação de pedras de colesterol. •

PRESSAO ARTERIAL
A hiperinsulinemia provoca aumentos da atividade do sistema nervoso simpático, que diminui a excreção renal de sal e água, aumentando assim o volume sangüíneo do corpo. O sistema nervoso simpático também libera os hormônios epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina), os quais estimulam o coração e os vasos sangüíneos, ações que contribuem para o aumento da pressão arterial. Por outro lado, a insulina é um hormônio vasodilatador e induz aumentos do fluxo sangüíneo para a musculatura esquelética, um efeito que parece ser mediado pelo óxido nítrico. Estes efeitos são acentuadamente diminuídos em pacientes obesos e hipertensos, portadores de resistência à insulina. Além deste possível comprometimento da vasodilatação, que poderia contribuir ainda mais para a elevação da pressão arterial, o decréscimo do fluxo sangüíneo para a musculatura esquelética poderia também determinar uma redução no aproveitamento periférico de glicose, agravando o estado de resistência à insulina.

CÂNCER
Segundo a maioria dos autores, o principal mecanismo responsável pela associação entre obesidade e câncer seria a hiperinsulinemia, desencadeada pelo excesso de peso. A insulina é um fator de crescimento tanto para as células normais, quanto para as células cancerígenas. A elevação dos níveis de insulina está mais fortemente relacionada à obesidade do tipo andróide, ou seja, aquela na qual a gordura concentra-se na região abdominal.
Além disso, nos obesos, ocorre maior produção de hormônio, principalmente a progesterona, já que possuem mais substrato (ácidos graxos).



Referências Bibliográficas:
SILVA, Gerusa A. Síndrome obesidade-hipoventilação alveolar. In: Medicina (Ribeirão Preto) 2006; 39 (2): 195-204.

NOBRE, Luciana N; SAMMOUR, Simone N F; SOBRINHO, Paulo; ELIAS, Fernanda CA; CAVACA, Soraya CS; TRINDADE, Ramana; BARBOSA, Michele M; COSTA, José O. Perfil lipídico e excesso de peso em escolares. In: Revista Médica de Minas Gerais 2008; 18(4): 252-259.
Disponível em: http://rmmg.medicina.ufmg.br/index.php/rmmg/article/view/61/30

SILVEIRA, Luis Alexandre G. Correlação entre obesidade e diabetes tipo 2. Pós-graduação, Latu-Sensu em Fisiologia do Exercício e Avaliação-Morfofuncional, Universidade Gama Filho.

CARNEIRO, Gláucia ; FARIA, Alessandra N.; RIBEIRO FILHO, Fernando F.; GUIMARÃES, Adriana; LERÁRIO, Daniel; FERREIRA, Sandra R.G. ; ZANELLA, Maria Teresa. Influência da distribuição da gordura corporal sobre a prevalência de hipertensão arterial e outros fatores de risco cardiovascular em indivíduos obesos. In: Rev. Assoc. Med. Bras. vol.49 no.3 São Paulo July/Sept. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42302003000300036&script=sci_arttext&tlng=in

LOPES, Heno F. Hipertensão e inflamação: papel da obesidade. In: Rev Bras Hipertens vol.14(4): 239-244, 2007.

JORGE, Stéfano Gonçalves. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica. Disponível em: http://www.hepcentro.com.br/

ZANELLA, Maria Teresa. Obesidade e anormalidades cardiovasculares. In: Obesidade. São Paulo: Lemos Editorial.

Saiba Mais Sobre os Problemas da Artrose em Pessoas Obesas. Disponível em: http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3096&ReturnCatID=1777

Litíase Vesicular. Disponível em: http://www.prognosys.com.br/artigosR.asp?titulo=LIT%C3%8DASE%20VESICULAR&idgrupo=17&IDartigo=70

HALPERN, Alfred; MATOS, Amélio F. de Godoy; SUPLICY, Henrique L.; MANCINI, Marcio C.; ZANELLA, Maria Teresa. Obesidade. São Paulo: Lemos Editorial, 1998.

Nenhum comentário:

Postar um comentário